Vulnerabilidades da SAF: Lições da Recuperação Judicial do Vasco
Nos últimos anos, o futebol brasileiro passou por uma transformação significativa com a introdução das Sociedades Anônimas do Futebol (SAF). Essa mudança visava modernizar a gestão dos clubes, mas também trouxe à tona diversas vulnerabilidades. Um caso emblemático é o do Vasco da Gama, que recentemente entrou em recuperação judicial. Neste artigo, vamos explorar as vulnerabilidades da SAF, analisando as lições que podemos aprender com a experiência do Vasco.
O que é uma SAF?
As Sociedades Anônimas do Futebol (SAF) foram criadas pela Lei nº 14.193/2021, com o objetivo de profissionalizar a gestão dos clubes de futebol no Brasil. A ideia é separar a gestão esportiva da administração financeira, permitindo que investidores externos possam aportar recursos e ajudar na recuperação de clubes endividados. No entanto, essa estrutura também apresenta riscos e vulnerabilidades que precisam ser cuidadosamente geridos.
A Crise do Vasco da Gama
O Vasco da Gama, um dos clubes mais tradicionais do Brasil, adotou o modelo de SAF em 2022, na esperança de resolver um passivo acumulado de centenas de milhões de reais. A transição envolveu a venda de 70% do capital da nova empresa para a 777 Partners, uma holding norte-americana, em troca de um aporte financeiro significativo. No entanto, a falta de uma estrutura de governança robusta e de mecanismos de proteção adequados expôs o clube a uma série de vulnerabilidades.
Vulnerabilidades Estruturais
Um dos principais problemas enfrentados pelo Vasco foi a fragilidade estrutural do modelo de SAF. A ausência de garantias contratuais e mecanismos de proteção contra inadimplementos revelou-se um erro crítico. A falta de um processo rigoroso de “know your partner” (KYP) impediu que o clube avaliasse adequadamente a solidez e a idoneidade da 777 Partners antes da formalização do acordo.
Fragilidade Contratual
A fragilidade contratual do acordo entre o Vasco e a 777 Partners ficou evidente com o surgimento de ações judiciais contra a holding nos Estados Unidos e no Reino Unido. As acusações de fraudes financeiras e uso indevido de garantias levantaram sérias dúvidas sobre a solvência da empresa. Isso destaca a importância de contratos que incluam cláusulas de proteção robustas e auditorias independentes contínuas.
Falta de Transparência
A falta de transparência na gestão da SAF do Vasco também foi um fator crítico. Decisões importantes foram tomadas unilateralmente, sem a devida consulta ao clube associativo. Um exemplo disso foi a operação de um empréstimo de R$ 25,8 milhões para uma empresa do próprio grupo 777, que foi revelada apenas no balanço anual. Essa falta de prestação de contas comprometeu a confiança dos torcedores e patrocinadores.
Governança e Conflitos de Interesse
A experiência do Vasco evidenciou falhas graves de governança corporativa. A ausência de mecanismos eficazes de controle interno permitiu que decisões estratégicas fossem tomadas sem supervisão adequada. Isso resultou em atrasos nos aportes financeiros e um desempenho esportivo instável, levando à perda de confiança institucional.
Recuperação Judicial: Um Alívio Temporário
Em fevereiro de 2025, o Vasco protocolou um pedido de recuperação judicial, abrangendo tanto o clube associativo quanto a SAF. Essa medida proporcionou proteção contra cobranças e execuções, mas também trouxe insegurança jurídica adicional para credores e para o mercado. A recuperação judicial impõe desafios significativos, exigindo uma disciplina financeira rigorosa e a reestruturação da governança.
Liçõe da Recuperação Judicial
A situação do Vasco serve como um alerta para outros clubes que consideram adotar o modelo de SAF. É fundamental que os clubes compreendam que a SAF não é uma solução mágica para problemas financeiros. A eficácia desse modelo depende de uma estrutura contratual sólida, controles internos eficazes e uma governança que assegure a transparência e a responsabilidade.
O Papel da Governança
A governança é um elemento crucial para o sucesso de uma SAF. Ela deve garantir que haja um equilíbrio entre os interesses dos investidores e do clube associativo. A falta de mecanismos de veto e a ausência de comitês independentes de auditoria e compliance foram falhas que comprometeram a operação da SAF do Vasco. A implementação de regras objetivas e supervisão ativa são essenciais para mitigar riscos.
Exemplos de Governança Eficiente
Outros clubes, como o Cruzeiro, têm adotado práticas de governança mais equilibradas, preservando canais de diálogo com o associativo e implementando controles internos robustos. O modelo alemão, que exige que os clubes mantenham o controle majoritário de suas operações, também serve como inspiração para a criação de cláusulas contratuais que protejam os clubes de decisões unilaterais prejudiciais.
Conclusão
A experiência do Vasco da Gama com a 777 Partners ilustra as vulnerabilidades que podem surgir na implementação do modelo de SAF. A profissionalização do futebol deve ser acompanhada de uma gestão cuidadosa e responsável, que priorize a transparência e a governança. Os clubes brasileiros precisam aprender com os erros do passado e adotar práticas que garantam a sustentabilidade financeira e a preservação de suas identidades.
O futuro da SAF do Vasco dependerá não apenas da solução de sua recuperação judicial, mas também da capacidade de reconstruir sua estrutura de governança e renegociar os termos do contrato. A modernização do futebol brasileiro deve ocorrer com responsabilidade e compromisso com suas raízes históricas.
Para mais informações sobre a crise na SAF do Vasco, você pode acessar a fonte de referência aqui.

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