Imposto Seletivo bebidas açucaradas: uma solução simbólica?
Nos últimos anos, o debate sobre a saúde pública e a tributação de produtos prejudiciais à saúde ganhou destaque. Um dos temas mais polêmicos é o Imposto Seletivo sobre bebidas açucaradas, instituído pela Emenda Constitucional (EC) 132/2023. Mas será que essa medida realmente representa uma solução eficaz ou é apenas uma ação simbólica? Neste artigo, vamos explorar as nuances desse imposto, suas implicações e se ele realmente pode contribuir para a saúde pública.
O que é o Imposto Seletivo?
O Imposto Seletivo foi criado como um tributo de natureza extrafiscal, com o objetivo de incidir sobre bens e serviços que são considerados prejudiciais à saúde ou ao meio ambiente. A Lei Complementar 214/2025 incluiu as bebidas açucaradas entre os produtos sujeitos a essa tributação. A ideia é que, ao encarecer o preço dessas bebidas, o consumo excessivo de açúcar seja desestimulado, contribuindo assim para a saúde pública.
Justificativas para a criação do Imposto Seletivo
A justificativa para a criação do Imposto Seletivo é dupla. Por um lado, busca-se desestimular o consumo excessivo de açúcar, que está associado a diversas doenças, como diabetes e obesidade. Por outro lado, a arrecadação gerada por esse imposto seria destinada a financiar políticas públicas voltadas para a saúde.
Um paradoxo na prática
Apesar das boas intenções, o modelo brasileiro apresenta um paradoxo. Embora o Imposto Seletivo seja apresentado como uma ferramenta de saúde pública, ele carece de um vínculo efetivo com essa finalidade. A Constituição Federal de 1988 proíbe a vinculação da arrecadação de impostos a despesas específicas. Isso significa que o dinheiro arrecadado com o Imposto Seletivo não pode ser diretamente utilizado para financiar campanhas de prevenção à obesidade ou reforçar o Sistema Único de Saúde (SUS).
Distribuição da arrecadação
Além disso, a Constituição determina que 50% da arrecadação do Imposto Seletivo seja distribuída ao Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal (FPE) e ao Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Isso implica que metade do que é arrecadado será diluído no orçamento geral da União, sem necessariamente ser direcionado para ações de saúde pública.
Natureza arrecadatória do Imposto Seletivo
Essa estrutura revela que o Imposto Seletivo, tal como está concebido, tem um caráter essencialmente arrecadatório. Se tivesse sido instituído como uma Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide), haveria uma obrigatoriedade de destinação dos recursos para a finalidade para a qual foi criado. Isso tornaria a medida mais coerente e eficaz.
Experiência internacional e eficácia do imposto
A experiência internacional mostra que a eficácia de um imposto sobre bebidas açucaradas depende de uma articulação entre a política fiscal e as ações de saúde. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que tais medidas sejam inseridas em um conjunto mais amplo de políticas públicas. Isso inclui a análise detalhada do consumo de açúcar, carga de doenças associadas e o impacto orçamentário.
Falta de análise situacional no Brasil
No Brasil, a criação do Imposto Seletivo ocorreu sem uma análise prévia do cenário nacional. Não houve um estudo que justificasse a adoção desse imposto apenas sobre as bebidas açucaradas, deixando de fora outros produtos açucarados que também são prejudiciais à saúde. Essa seletividade reduz a efetividade do tributo e pode levar à migração para produtos substitutos que não são tributados.
Objetivos não claros
Além da arrecadação, é importante questionar quais são os objetivos reais do Imposto Seletivo. Estimular a reformulação de produtos? Reduzir o consumo excessivo de açúcar? Combater a obesidade? Nenhuma dessas finalidades foi claramente justificada e documentada pelo legislador. Isso levanta dúvidas sobre a real eficácia da medida.
Implicações para a saúde pública
O Imposto Seletivo sobre bebidas açucaradas, como está estruturado, parece mais uma solução simbólica do que uma política consistente de saúde pública. A incoerência normativa e a falta de articulação com ações de saúde comprometem sua efetividade. É fundamental que haja uma revisão dessa política, com base em dados e estudos que comprovem a correlação entre o consumo de bebidas açucaradas e os problemas de saúde.
Conclusão
O Imposto Seletivo sobre bebidas açucaradas foi criado com a intenção de desestimular o consumo excessivo de açúcar e arrecadar recursos para a saúde pública. No entanto, sua implementação revela uma série de paradoxos e incoerências. Sem um vínculo efetivo com a saúde pública e sem uma análise prévia do cenário brasileiro, essa medida parece mais uma solução simbólica do que uma estratégia eficaz. Para que o Imposto Seletivo cumpra seu papel, é necessário um repensar das políticas públicas e uma articulação mais efetiva entre a tributação e a saúde.
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