Introdução
O Brasil viveu um período sombrio entre 1964 e 1985, marcado pela ditadura militar. Durante esses anos, muitos artistas e intelectuais foram vigiados e perseguidos. Um dos nomes que se destacou nesse cenário foi o escritor Luis Fernando Verissimo. Neste artigo, vamos explorar como a ditadura militar monitorou sua trajetória e o rotulou como um “esquerdista festivo”. A história de Verissimo é um reflexo da luta pela liberdade de expressão em tempos de repressão.
A Vigilância da Ditadura Militar
Entre 1970 e 1985, Verissimo foi alvo de intensa vigilância dos órgãos de inteligência da ditadura. Relatórios e dossiês guardados no Arquivo Nacional revelam que ele era classificado como parte da “esquerda festiva”. Essa expressão, que pode parecer inofensiva, escondia uma realidade de controle e repressão. O governo militar via suas crônicas e textos como uma ameaça.
No mais antigo documento encontrado, datado de 1970, agentes do Serviço Nacional de Informações (SNI) afirmavam que suas crônicas, publicadas na Folha da Manhã, ridicularizavam o governo. Essa crítica sutil, mas incisiva, era vista como uma forma de contestação ao regime. Verissimo, com seu humor afiado, utilizava o futebol como um recurso para inserir críticas políticas, o que o tornava um alvo ainda mais interessante para os vigilantes do SNI.
O Rótulo de “Esquerdista Festivo”
O rótulo de “esquerdista festivo” foi atribuído a Verissimo em função de sua capacidade de misturar crítica social com humor. Essa combinação era vista como perigosa, pois o humor tem o poder de alcançar o público de maneira mais eficaz do que discursos diretos. A ditadura temia que suas crônicas pudessem inspirar uma resistência maior contra o regime.
Um exemplo claro dessa vigilância ocorreu em 1977, quando uma tirinha de Verissimo comparou o time do Internacional ao gabinete federal. Essa crítica, embora disfarçada de humor esportivo, foi interpretada como uma sátira direta aos ministros do governo. A capacidade de Verissimo de usar o cotidiano para criticar a política era uma habilidade que o tornava um escritor único e, ao mesmo tempo, um alvo constante da repressão.
A Imprensa Alternativa e a Resistência
Verissimo não se limitou a escrever para veículos tradicionais. Ele também participou de jornais da chamada imprensa alternativa, como o periódico Risco, da L&PM Editores. Para os agentes da ditadura, esse ambiente reunia “a maior concentração de comunistas, esquerdistas e anarquistas do jornalismo gaúcho”. Essa associação com a imprensa alternativa reforçava a imagem de Verissimo como um opositor ao regime.
Em 1976, sua entrada como colunista na revista IstoÉ, ao lado de nomes como Millôr Fernandes e Plínio Marcos, foi registrada como um sinal de alinhamento oposicionista. A presença de Verissimo em publicações que desafiavam a censura era um ato de coragem e resistência. Ele se tornou uma voz importante na luta pela liberdade de expressão, mesmo sob a constante ameaça da repressão.
O Humor como Forma de Resistência
O humor sempre foi uma ferramenta poderosa de resistência. Segundo o escritor Márcio Pinheiro, a censura via no humor uma ameaça direta por sua capacidade de crítica popular. Verissimo, com seu estilo refinado e delicado, conseguiu abordar temas como futebol e política de forma irônica, mantendo uma marca distinta dentro da imprensa. Essa habilidade permitiu que ele se destacasse, mesmo em um ambiente hostil.
O cartunista Edgar Vasques, companheiro de Verissimo na Folha da Manhã, também foi alvo da repressão. Ele chegou a responder a um processo na Polícia Federal por uma charge publicada no Pasquim. Vasques lembra que, apesar do cerco, Verissimo não demonstrava preocupação pública com a vigilância. Essa atitude corajosa consolidou Verissimo como uma das vozes mais originais contra o autoritarismo.
A Censura e Seus Efeitos
A censura imposta pela ditadura militar teve efeitos profundos na cultura e na sociedade brasileira. Muitos artistas e escritores foram forçados a se autocensurar ou a buscar formas alternativas de expressão. Verissimo, no entanto, encontrou maneiras de contornar a censura, utilizando o humor e a ironia como escudos contra a repressão.
Um informe do SNI de 1977 criticava o fato de Verissimo trabalhar em campanhas publicitárias da Rhodia, acusando-o de ser contraditório por criticar o regime e, ao mesmo tempo, produzir para uma multinacional. Essa vigilância constante demonstra a perseguição que humoristas e cronistas sofreram durante o regime. A capacidade de Verissimo de se manter relevante e crítico, mesmo sob pressão, é um testemunho de sua genialidade.
Legado de Luis Fernando Verissimo
O legado de Luis Fernando Verissimo vai além de suas crônicas e livros. Ele representa a luta pela liberdade de expressão em um período em que essa liberdade era severamente restringida. Sua habilidade de criticar o regime militar, mesmo que de forma sutil, inspirou gerações de escritores e artistas a se manifestarem contra a opressão.
Verissimo faleceu em 30 de agosto de 2025, aos 88 anos, em Porto Alegre. Sua morte marca o fim de uma era, mas seu legado continua vivo. Ele é lembrado não apenas como um grande escritor, mas como um símbolo de resistência e coragem em tempos de autoritarismo.
Reflexões Finais
A história de Luis Fernando Verissimo e sua vigilância pela ditadura militar nos ensina sobre a importância da liberdade de expressão e da resistência cultural. Em tempos de repressão, a arte e o humor podem ser poderosas ferramentas de crítica e contestação. Verissimo, com seu estilo único, conseguiu desafiar o regime e deixar uma marca indelével na literatura brasileira.
É fundamental que continuemos a valorizar e proteger a liberdade de expressão, aprendendo com os erros do passado. A vigilância e a censura nunca devem ser aceitas como normais. A luta pela liberdade é contínua e deve ser defendida por todos nós.
Para mais informações sobre a vigilância da ditadura militar sobre Luis Fernando Verissimo, você pode acessar a fonte de referência aqui.
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